terça-feira, 7 de abril de 2009

A fera em seu território

FICHA


Elías Ricardo Figueroa Brander
Nascimento: 25/outubro/1946, em Valparaíso, Chile

Carreira: Unión La Calera-CHI (1964), Santiago Wanderers-CHI (1965 e 1966), Peñarol-URU (1967 a 1971), Internacional (1971 a 1976), Palestino-CHI (1977 a 1980), Fort Lauderdale Strikers-EUA (1981) e Colo-Colo (1982)

Títulos: Campeonato Uruguaio (1967 e 1968), Campeonato Brasileiro (1975 e 1976), Campeonato Gaúcho (1972, 1973, 1974, 1975 e 1976), Campeonato Chileno (1978) e Copa do Chile (1977)

Postado em 7/4/2009 às 15:08 por Dassler Marques

Figueroa, um dos maiores da história do Internacional

“A grande área é minha casa e na minha casa só entra quem eu convido”. A frase célebre de Elias Ricardo Figueroa Brander contrasta a personalidade do zagueiro com a do homem, embora ambas tenham conquistado cada um dos milhões de torcedores colorados no Brasil.

Em campo, Figueroa foi o maior zagueiro da história centenária do Internacional e anulou qualquer atacante que ousasse ameaçar a incrível hegemonia colorada nos vermelhos anos 70 do futebol brasileiro. Fora dele, uma personalidade agradabilíssima, educada, atenciosa e que nunca negou seu amor ao Brasil, ao Rio Grande do Sul e, particularmente, aos torcedores do Inter.

Em seis temporadas no futebol brasileiro, Don Elías Figueroa, como é chamado até os dias atuais, conquistou cinco títulos gaúchos, dois nacionais e ainda foi três vezes eleito o maior jogador da América do Sul, além de outras duas o principal zagueiro do planeta. Jamais perdeu para o Grêmio. E se transformou em um dos maiores ídolos da história do Internacional e, talvez, no caso de maior sucesso de um estrangeiro no futebol brasileiro.

Como se sente na história do Internacional?
Me sinto muito feliz. O Inter e o torcedor colorado moram no meu coração. Cheguei quando era um clube grande, mas faltava um time. Consegui muitas coisas, fiz o gol do primeiro título nacional e entramos para a história. A lembrança que tenho é belíssima.

A década de 70 foi a mais vitoriosa da história do Inter. Como foi fazer parte do clube nessa época?
Em nível local, ganhamos todos os títulos estaduais e um bicampeonato nacional. Fizemos do Inter um time conhecido e realizamos excursões pela Europa, o que ainda não acontecia. Passou a ser um time reconhecido, cedeu jogadores para a Seleção Brasileira. Além disso, saíram da base jogadores que deram orgulho para a torcida e, ter participado disso, também é um orgulho muito grande.

Como vê o fato de ter superado o histórico time do Rolo Compressor?
Sempre falavam dessa equipe e realmente acho que fomos fazendo a história do Inter. Com todo o respeito, acho que conseguimos mais. E com certeza alguém vai nos superar também no futuro.

Como você recebeu a proposta para jogar no Internacional? O que sabia sobre esse clube?
Eu jogava no Peñarol e viemos participar da inauguração do Beira-Rio. Jogamos e vimos que o clube tinha um estádio grande, mas não o conhecíamos. Aí o Peñarol passou por uma crise e eu estava para ir jogar no Real Madrid, mas naquela época não pagavam na Europa como se paga hoje. Então, jogar no Brasil me deixava mais perto da família, que morava no Uruguai, e era quase o mesmo dinheiro que se ganhava na Espanha. Além disso, o futebol brasileiro era tricampeão do mundo e tinha jogadores como Pelé, Rivelino, Ademir da Guia, Paulo César Caju, Brito e Piazza. Por tudo isso, preferi o Inter.

Foi uma escolha muito feliz, não?
Sim (risos). Foi a melhor escolha que fiz em minha vida. Ainda me sinto gaúcho, um embaixador do Brasil e da gente do Sul, por todo esse carinho que sempre me mostraram. Até os gremistas sempre tiveram muito carinho por mim.

Falando mais sobre essa rivalidade centenária. Como é sua relação com o Grêmio?
Acho que sou o zagueiro que mais fez gols no Grêmio. Ninguém pode desmerecer que é um grande clube e senti sempre muito respeito pelo torcedor gremista. Sempre reconheci como grande clube, só que estivemos em um melhor momento no Inter.

Você apontaria um Gre-Nal inesquecível?
Todos são inesquecíveis. Teve um em que fiz um gol de bicicleta dentro do campo do Grêmio. São gols e jogos inesquecíveis, por tudo que se vive na semana anterior a na semana seguinte. Afortunadamente, nunca perdi para os gremistas, então eram sempre semanas muito boas (risos).

Qual seu título mais marcante no Inter?
O título mais marcante foi ser campeão nacional em 1975. Além disso, ser três vezes escolhido o melhor jogador da América e outras duas o melhor zagueiro do mundo.

E a maior alegria e a maior dor com a camisa colorada?
A maior alegria foi o gol contra o Cruzeiro, que nos deu o primeiro título nacional. Ninguém vai repetir, porque não terá outra primeira vez. Foi o famoso gol iluminado. Senti que era gol quando testei a bola e vi um mar vermelho se levantando. Foi um momento inesquecível, que tenho guardado em mim. Esse mar gritando gol. A tristeza é não ter ganho uma Libertadores. Naquela época, o mais importante era o título estadual e o brasileiro.

O que representa um clube de futebol completar 100 anos?
Poucas instituições chegam ao centenário e o Inter chegou. É um clube querido e é muito importante chegar aos 100 anos como o Inter chega. Na melhor forma, em um grande momento. Todo colorado deve se sentir orgulhoso disso.

Que avaliação faz desse momento do clube?
O Inter esteve em um momento melhor como campeão do mundo e hoje está também na briga. Por causa de todos que passamos por lá, se tornou um time muito respeitado. E esse centenário só reforça tudo isso.

Como foi torcer pelo Inter nos difíceis anos 90?
Como um bom colorado, sofri muito. Mas depois fiquei feliz com os títulos que foram conquistados.

É possível ter ídolos como você no futebol de hoje?
Hoje em dia é difícil. Os jogadores ficam muito pouco tempo. Em todos os anos no Inter, nunca quiseram me vender e o clube caminhava com a torcida. Hoje o profissionalismo faz com que o jogador dificilmente passe mais de duas temporadas em um clube.

Você se identifica com algum jogador atual do Inter?
Destacar um só não é justo. Mas o Índio, que faz vários gols, é um jogador muito representativo.

Aliás, como vê a safra atual de zagueiros?
Gosto muito dos brasileiros e o Brasil sempre teve bons zagueiros. Acontece que do meio para cima sempre teve muitas grandes figuras e por isso não notavam o resto. Gosto do Índio, que se sustenta bem sem ter um tamanho grande para zagueiro. E também do Lúcio e o Juan. Em nível mundial, não tem um completo. Gosto do Rio Ferdinand, mas sinto que falta mais coisas nele. Quiçá eu seja exigente demais com isso (risos).

Na vitória por 3 a 0 sobre o Chile em Santiago, no ano passado, ficou a impressão de que os zagueiros chilenos não são bons. É verdade?
Nesse dia, o Chile jogou com três zagueiros, mas dois deles eram volantes. O Fierro e o Estrada. Foi mais um equívoco, pois o Brasil tem jogadores altos na frente, zagueiros também altos. E esses dois são muito bons volantes. Mas não são zagueiros.

Como você analisa o Dunga na Seleção Brasileira?
O Dunga é uma pessoa séria, que às vezes se afastava um pouco do futebol brasileiro. Mas foi um grande jogador e sempre que há mudanças, é preciso se adaptar. Acredito nele e em uma grande campanha com o Brasil, que mantém os melhores jogadores do mundo.

Os brasileiros ficaram impressionados com o Lucas Barrios, do Colo-Colo, que brilhou na vitória sobre o Palmeiras na Libertadores. É um jogador especial?
É um jogador que está sendo um dos melhores goleadores do mundo. Chegou ao Chile sem ser uma grande figura e hoje já fez muitos gols. Ele tem um tamanho muito bom e é forte e preciso dentro da área. Acho que hoje pode jogar em qualquer clube do mundo.


Do site da revista Trivela.

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