sexta-feira, 10 de abril de 2009

Campeão do marketing

Com um modelo de negócios copiado de grandes corporações, o Internacional de Porto Alegre vira referência em gestão

AMAURI SEGALLA

O FUTEBOL BRASILEIRO é tão vitorioso dentro de campo quanto confuso e desorganizado fora dos gramados. Campeonatos que vão parar na Justiça, falta de público nos estádios, êxodo precoce de jogadores, péssima gestão dos dirigentes, tudo isso levou a maioria dos grandes clubes a uma situação muito próxima da falência. O Flamengo, time de maior torcida do País e dono de cinco títulos brasileiros, até a semana passada estava há três meses sem pagar salário a seus jogadores. Nos últimos anos, campeões como Vasco, Palmeiras, Corinthians e Atlético Mineiro foram parar na Segunda Divisão, graças principalmente à gestão desastrosa de seus comandantes. Num cenário desse, chamam a atenção os clubes que conseguem gerir o futebol de forma profissional, algo ainda raro no País. O São Paulo, atual tricampeão brasileiro, ficou conhecido pela estrutura invejável. Mas outros times também conseguiram elevar o padrão de administração para níveis próximos aos dos grandes clubes europeus. É o caso do Internacional de Porto Alegre, uma espécie de campeão brasileiro do marketing.

“O clube aprendeu a diversificar suas receitas, numa estratégia parecida com a de grandes empresas”

VITORIO PIFFERO, presidente do Inter

O Inter criou o maior programa de captação de sócios da história do futebol brasileiro. Em 2002, lançou uma campanha publicitária para atrair fãs interessados em pagar uma mensalidade para se tornar sócios-torcedores. O mote era irresistível para os fanáticos: “100 anos, 100 mil sócios”. O clube completa o seu centenário no próximo dia 4 de abril e a meta está perto de ser cumprida. Há sete anos, 12 mil colorados desembolsavam um valor mensal para ter descontos generosos na compra de ingressos e prioridade na compra do bilhete. Hoje o número está em torno de 90 mil e projeções indicam que deve chegar a 100 mil muito antes do fim do ano. Na América Latina, só o argentino River Plate tem um quadro social maior. Segundo o Inter, no ranking mundial o clube gaúcho está entre os dez que possuem mais sócios. Em 2009, as receitas anuais geradas pelo programa devem chegar perto dos R$ 40 milhões – o equivalente a 30% do orçamento anual do clube. Para efeito de comparação, é quase o triplo do valor que o Flamengo recebeu em 2008 da Petrobras a título de patrocínio. “O Inter aprendeu a diversificar suas fontes de receitas, numa estratégia muita parecida com a de grandes empresas”, diz Vitorio Piffero, presidente do clube. “Com esse modelo de negócios, conseguimos montar grandes times e nos tornamos campeões da América do Sul e do Mundial Interclubes, em 2006.”

No campo do marketing, o time gaúcho marcou alguns golaços. Em 2006, a área de licenciamento da marca estava praticamente esquecida, com faturamento na casa dos R$ 600 mil. Após a conquista do título mundial naquele ano, o clube iniciou um processo de abertura de lojas Brasil afora, para aproveitar o momento favorável. Em três anos, o número de lojas que vendem produtos com a grife do Inter quadruplicou. Atualmente existem 35 endereços dedicados a comercializar artigos do clube. “Queremos chegar a 100 estabelecimentos ativos até o fim do ano”, afirma Jorge Avancini, vice-presidente de marketing do clube. No ano passado, o licenciamento da marca gerou R$ 4,2 milhões, valor que deve crescer 50% em 2009. Avancini formatou um projeto de internacionalização, também aproveitando a conquista do mundo em 2006. Ele vendeu franquias da escola de futebol do Inter para empresários americanos e uruguaios, que abriram academias na Califórnia e em Montevidéu. A administração profissional foi premiada. O Inter se tornou no final do ano passado o único clube de futebol do Brasil a possuir o certificado ISO 9001, que identifica boas práticas de gestão. Nem o badalado São Paulo recebeu a honraria.


Da revista ISTOÉ Dinheiro

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